quinta-feira, 3 de maio de 2007

C.R.A.Z.Y.: ousado e dinâmico!


Tornou-se comum, entre algumas cabeças bem pensantes, apontar a família como uma instituição social falida. Que a família, como unidade social básica, seria foco de neuroses, de comportamentos pouco edificantes e que muitos dos problemas que atingem a sociedade como um todo derivam desse núcleo fundamental. Bom, a se julgar pelo filme C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor, de Jean-Marc Vallée, a teoria é completamente furada. O quarto longa-metragem do diretor canadense faz um verdadeiro elogio à família e o faz lançando mão de um recurso, ao mesmo tempo, original e ousado: o ponto-de-vista de um homossexual!

O protagonista de C.R.A.Z.Y é Zac, o quarto filho de um grupo de cinco irmãos. Praticamente 99% da película concentra-se nos anos de sua juventude, até mais ou menos os 20 anos (apenas o plano final o mostra com uma idade mais avançada, próximo aos trinta). A história tem início no ano de 1960, uma data bastante significativa, afinal de contas, dentro de poucos meses, mudanças profundas abalariam toda as estruturas tradicionais da sociedade, dentre elas, os costumes arraigados e a religião. Nesse contexto de liberalização e de abertura a novas experiências, o filme de Valée procura mostrar que nem tudo era bem aceito, inclusive pelos mais jovens. O homossexualismo continuava - e continua, de certa forma - sendo encarado como um problema, algo perigoso e que deveria ser evitado.

O que mais importa, no entanto, não é essa "denúncia". Chama a atenção, de verdade, o fato de se utilizar uma personagem homossexual para defender valores familiares, o que para o pensamento cristão, configura-se como um contrasenso ("como o ser humano se reproduzirá e se conservará como espécie se a opção afetiva das pessoas for pelo mesmo sexo?"). Aliás, a Igreja, se assistiu ao longa, não deve ter ficado muito satisfeita. A cena da Missa do Galo junto com a música "Simpathy For The Devil" dos Rolling Stones é uma das mais provocativas a que eu assisti nos últimos tempos. Afinal, o que é religião, o que é espiritualidade? Passagem antológica!!!

C.R.A.Z.Y. é dinâmico e utiliza muito bem os efeitos especiais, provando que eles podem, sim, ser usados com propósitos nobres e não somente como atrativo para filmes de ação e aventura. Por exemplo, quando Zac está em Jerusalém e, após ter dormido com um gay local, sai em direção ao deserto num momento quase onírico do filme, a câmera, como se estivesse atrasada, voa pela janela e o alcança já quase desmaiado. É um belo "movimento de câmera", que funciona como um resgate da vida do seu herói.


Outro elemento muito importante é a música. Se para mim que nasci nos anos 80 - justamente quando paramos de acompanhar a história de Zac - ouvir a trilha sonora já é motivo de enorme prazer, para quem viveu aqueles anos, reviver duas décadas de grande revolução sonora - Rolling Stone, Pink Floyd, David Bowie, The Cure, etc - deve ser uma experiência quase mística!!! Grande filme!
OBS: A partir de hoje, pretendo acrescentar sempre ao final dos meus textos uma ou mais críticas sobre o filme por mim enfocado. Acredito que, dessa forma, possa fomentar uma percepção mais ampla da obra analisada e, quem sabe, estimular o debate em torno dela.
Eis as primeiras escolhidas:

4 comentários:

Cauã Taborda disse...

Sem dúvida gostarei de assistir ao filme, principalmente após descobrir, por meio deste belo post, a tilha sonora fantástica e a cena da missa. Show de bola Sr. Reed ! Abraços !

Daniela disse...

Gostei, Guilherme, fiquei com vontade de ver o filme!

Leo Morato disse...

Preferia o filme do Pelé...

Alberto Pereira Jr. disse...

òtimo filme!
Crazy foi um dos melhores filmes que vi ano passado, genuíno, emocionante e diferente de tudo que tinha visto no que tange personagens protagonistas homossexuais. A história não busca edificá-lo, enm levantar bandeiras é linda e leva a pensar.