Iniciei hoje à tarde a minha aventura de descoberta pela obra do sr. Robert Altman. E comecei pelo final, por A Última Noite, seu último filme antes de seu falecimento no final do ano passado. E confesso que não foi nada animador esse começo...
Sejamos sinceros: o filme mantém um clima insuportável de monotonia, não existem altos e baixos, apenas uma linha de ação contínua e previsível no tempo - no espaço, não, afinal a história inteira se passa ou no Fitzgerald Theatre ou na lanchonete do outro lado da rua - e termina onde todo mundo já sabia que ia terminar: no fechamento das cortinas do teatro, localizado na cidade de St. Paul, estado de Minnesota! Nem as pontas nem o miolo do filme despertam muito interesse. A não ser para quem adora música caipira americana, pois ouvimos mais de uma dezena delas ao longo da sessão.
Aliás, se A Última Noite possui algum mérito, ele se encontra justamente na sua proximidade com um aspecto característico do rádio, qual seja, o de tocar músicas. Altman, procurando fazer uma espécie de homenagem a esse veículo de comunicação, nos apresenta a última noite de um programa radiofônico que está no ar há mais de trinta anos. Se excluíssemos a imagem da tela e deixássemos apenas o som, nossa percepção da obra não mudaria muito. A Última Noite é um programa de rádio com imagens! Não existem subtramas, o que poderia nos despertar um pouco a curiosidade e enriquecer essa história sobre a decadência do rádio.
Quando se tenta introduzir pitadas de humor, o resultado é ainda pior. Os momentos de graça não possuem nenhuma graça e - diga-se de passagem - as "piadas infames" da dupla de caubóis Dusty e Lefty( Woody Harrelson e John C. Reilly, respectivamente ) são melhores que as da história propriamente dita. Isso não exclui um comentário elogioso em relação à atuação de Kevin Klein, que interpreta o detetive-porteiro ou o porteiro-detetive, paspalho e desastrado e que, no entanto (ou por causa disso, não sei!), é o "narrador" do filme. Por falar em atuações, e a Lindsay Lohan? Além de ordinária (e bonitinha), ainda lhe deram uma personagem um tanto deslocada: filha de cantora de rádio, ela possui um temperamento depressivo-suicida, escreve poemas nessa linha dark, mas que, já próximo do final, canta alegremente uma canção folclórica meio improvisada e, para fechar com chave de ouro sua performance, torna-se uma agente do capitalismo "mais avançado"... Impressionante sua capacidade de transformação, capacidade essa não demonstrada pela película, infelizmente!
Outro ponto que chama a atenção é o comportamento da câmera durante o filme. Apesar de aparentar movimentos elegantes, a sua inquietude chega a ser irritante. Parece cachorro de família em dia de mudança, completamente perdido. Talvez ela estivesse mesmo desorientada, por causa da demolição do teatro e o fim do programa, querendo captar tudo quanto fosse possível dessa derradeira apresentação. Por enquanto, o certo mesmo é que, dos 50 filmes exibidos na mostra dos melhores do ano passado no Cinesesc, A Última Noite fique na última posição.
PS: Apesar dessa impressão negativa, temos de reconhece dois aspectos positivos, além daquele apresentado no começo desse texto: A Última Noite não possui um herói nem heróis, o que é, no mínimo, incomum dentro do cinema norte-americano. Revela, portanto, coragem por parte de seu realizador. Além disso, não me lembro de ter visto um Anjo da Morte tão lindo como o de agora, interpretado pela loira fatal Virginia Madsen. Outro sinal de coragem. E é só!